Entrei na Menopausa. E agora? Entenda como o Ayurveda vê este ciclo da mulher.
- Mônica Teles Lloyd
- Feb 11
- 8 min read

Por Mônica Lloyd
Na jornada da vida da mulher, desde a puberdade, passando pela maternidade e, finalmente, chegando à menopausa, processa-se uma verdadeira metamorfose em que a mulher tem a oportunidade de se reinventar e aproveitar esta fase com graciosidade.
No contexto do Ayurveda, a milenar medicina indiana, essa transição é entendida não apenas como uma mudança física, mas como um delicado equilíbrio entre os elementos da natureza que compõem a essência da mulher.
Em sânscrito, menopausa é denominada como Rajonivritti Kala, em que Raja significa “menstruação”, nivritti significa “cessação”, e kala significa “período de tempo”. Trata-se de um dos marcos mais significativos na vida de uma mulher. Ocorre, geralmente, entre os 45-55 anos e assinala o fim da vida reprodutiva da mulher, devido à perda da função ovariana. Envolve mudanças biológicas e psicológicas e marca, inevitavelmente, o processo de envelhecimento nas mulheres que, se não for cuidado, acarreta muitos sintomas desagradáveis.
Existem muitos caminhos no Ayurveda para o alívio dos sintomas da menopausa. Entre eles, o sistema tridosha geralmente serve como um princípio orientador central. Na visão Ayurvédica do corpo humano, cada um de nós nasce com uma constituição original, ou Prakriti, que permanece connosco por toda a vida. Agindo sobre a nossa constituição estão as três influências bioenergéticas, ou doshas: Vata, Pitta e Kapha, cada uma representada por dois dos cinco elementos da natureza: espaço, ar, fogo, água e terra. O estado de saúde é caracterizado pelo equilíbrio dinâmico entre os três Doshas no nosso sistema.
De acordo com o Ayurveda, diferentes estágios das nossas vidas são profundamente influenciados por cada um dos três Doshas – Vata, Pitta e Kapha. A infância, que é a primeira fase, é governada por Kapha Dosha, formado por terra e água. A segunda fase, da puberdade aos cinquenta anos, aproximadamente, é governada por Pitta Dosha, tendo fogo e água como seus elementos, e a terceira fase, que vai dos cinquenta anos, ou quando a mulher entra na menopausa, até a morte, é governada por Vata Dosha, constituído por éter (espaço) e ar. Esta referência pode ser muito útil para nos ajudar a apreciar tanto os nossos pontos fortes como as nossas vulnerabilidades, à medida que crescemos, amadurecemos e envelhecemos.
Lembre-se de que a transição entre esses estágios separados não ocorre da noite para o dia. Em vez disso, é uma transição gradual em que a influência de um Dosha começa a diminuir, enquanto a influência de outro Dosha começa a aumentar.
Na Medicina Ayurveda, os desequilíbrios de uma pessoa (Vikriti) são tratados de forma individual, em que o foco passa por tratar as causas em vez de tratar apenas os sintomas. No caso de uma mulher na menopausa com excesso de um Dosha, o desequilíbrio resultante no seu corpo tende a produzir um certo “tipo” de sintomas da menopausa característicos da predominância daquele Dosha sobre os demais. Reconhecer qual o Dosha predominante no seu sistema na menopausa, ajudará a identificar quais os tratamentos mais adequados para a sua constituição e aumentará a probabilidade de aliviar os seus sintomas.
Durante a menopausa dominada por Vata Dosha, a mulher poderá sentir algum dos seguintes sintomas: nervosismo, ansiedade, insónias, ondas de calor leves, depressão, tom de pele fraco, prisão de ventre, secura vaginal. Mulheres cuja menopausa é dominada por Pitta Dosha podem, geralmente, experimentar, por exemplo, explosões de raiva, irritabilidade, temperamento explosivo, ondas de calor mais intenso ou suores noturnos, infeções do trato urinário e erupções cutâneas. Já as mulheres onde Kapha Dosha predomina na menopausa podem manifestar uma “menopausa intensa”, implicando um cansaço excessivo, dificuldade de concentração ou aquela “sensação de peso”. Outros sintomas podem incluir aumento de peso, sonolência, moleza, infeções fúngicas, digestão lenta e retenção de líquidos.
O período que antecede a menopausa, ou a perimenopausa, vai desde a idade fértil da mulher até à menopausa, podendo durar mais de doze anos. Este período pode variar dependendo de fatores hereditários, natureza, constituição corporal, estado mental, níveis de stress, condição de trabalho, país de residência, etc. Na menopausa, a fisiologia da mulher sofre uma mudança, devido às alterações hormonais, que incluem a redução dos níveis de estradiol e progesterona e a elevação das gonadotrofinas hipofisárias (FSH, hormónio folículo estimulante, e LH, hormónio luteinizante), hormónios responsáveis pelo controle e regulação das funções reprodutivas e hormonais.
Quando a mulher entra na menopausa, está a transitar para o período da sua vida dominado por Vata Dosha, permitindo que o discernimento e a sabedoria cresçam a partir da profunda reflexão e contemplação da vida vivida até ao momento. Esta fase da vida é uma excelente oportunidade para a mulher se conhecer melhor e reservar tempo para o autocuidado, a reflexão e a meditação. É considerada menopausa quando uma mulher completa 1 ano sem menstruar desde o seu último período menstrual.
Com a queda hormonal, duas substâncias subtis e vitais no nosso corpo, Ojas e Tejas, acabam por enfraquecer. Ojas é o nosso vigor, energia vital ou essência central que nutre todos os tecidos e é responsável pelo funcionamento ideal do nosso corpo, mente e espírito. Por outro lado, refere-se também à reserva de energia dos fluidos cerebrospinal, hormonal e reprodutivo. Pode ser visto como uma forma muito subtil e refinada do kapha Dosha. O nosso sistema imunológico está bem quando temos um Ojas forte; dá-nos a capacidade de lidar bem com o nosso ambiente externo, assim como com as mudanças no nosso ecossistema interno. Um Ojas fraco abre portas a desequilíbrios, baixa imunidade e doenças.
Tejas é uma versão refinada de Pitta Dosha. Atua como a essência subtil positiva do Agni, a nossa capacidade digestiva ou fogo digestivo. Rege a inteligência, o discernimento, o entusiasmo e todos os tipos de digestão e transformação. Sem Tejas não há orientação sobre para onde Pitta e o calor devem fluir, para que possam servir o seu propósito. Idealmente, a mente e o corpo neste ponto do ciclo de vida já construíram a inteligência suficiente para continuar com essas funções sem, necessariamente, precisar de hormónios para guiá-los. Ainda assim, se faltar Tejas, podemos experimentar desequilíbrios.
Como os hormónios desempenham funções vitais de Pitta e Kapha, é muito importante que esses dois Doshas, especificamente, estejam equilibrados no momento da entrada da menopausa. Pitta deve fornecer uma fonte sólida de Agni ou fogo digestivo. Kapha não deve ser esgotado, pois nutre todos os tecidos para que não sejam destruídos à menor mudança.
Durante a menopausa, a tendência é diminuir Ojas e, portanto, é ter uma capacidade limitada para manter o equilíbrio no mesmo ambiente e com os mesmos fatores de stress. Aliada à natureza errática de Vata e, especialmente quando não controlado, o nosso corpo entra numa aceleração simpática.
O nosso sistema nervoso é um equilíbrio delicado do sistema nervoso simpático, um sistema orientado para o stress, que existe para a autopreservação e do sistema nervoso parassimpático, que funciona para relaxar e renovar. Ambos opostos e complementares.
Com baixo Ojas, a menopausa torna-se um estado de alto sistema nervoso simpático – os níveis de cortisol aumentam, a pressão arterial aumenta e a frequência cardíaca aumenta. Esse estado de stress agrava Pitta Dosha em todo o corpo, pronto para atacar qualquer ameaça, inclusivamente com a cessação do fluxo sanguíneo.
No estado ideal e saudável da mulher menopausada, como carinhosamente chamamos a mulher na menopausa na minha terra natal, passa-se da predominância de Pitta, mental e fisicamente, para a predominância de Vata. Num cenário ideal de saúde perfeita, o corpo faria uma transição perfeita. Mas com atividades persistentes de Pitta e ativação constante do sistema simpático, quente e aguçado, Pitta permanece preso no corpo. No final, ficamos com o seguinte cenário:
O Vata agravado e não ancorado dispersa-se por todo o corpo, levando o fogo digestivo central, ou Agni, para longe do seu lar, no estômago e nos intestinos. Isto leva a dificuldades de digestão e nutrição geral. A temperatura que viaja no sistema circulatório provoca ondas de calor, problemas de sono e, em casos extremos, doenças cardíacas.O Vata agravado flui para baixo, secando a vagina, e no cólon, tal como noutros tecidos mais profundos, causa ressecamento. Em casos extremos, pode levar a condições como a osteoporose. O Tejas fraco leva a problemas de memória e de concentração e a uma maior predisposição para o cancro.
O estrogénio é um hormónio Pitta, que se comunica e transforma os tecidos, enquanto a progesterona é um hormónio Kapha que, ao se dissipar, deixa o corpo sem lubrificação. A progesterona começa a cair aos 35 anos, razão pela qual se entra na perimenopausa nesse período.
Quanto mais desequilibrados estiverem os nossos hormónios maior a probabilidade da transição para a menopausa ser mais difícil. Se os nossos hormónios estiverem equilibrados, é possível passar dos 35 aos 55 anos sem qualquer desconforto. Se o desequilíbrio continuar, é possível relacionar os seguintes sintomas ao período da menopausa: perda de cabelo, distúrbios digestivos, cistite, vaginite, ansiedade, nervosismo e depressão, secura vaginal, suores / ondas de calor, períodos irregulares, seios doridos, fadiga, tonturas, dor nas articulações, dores de cabeça, batimento cardíaco acelerado, diminuição da líbido, incontinência vesical e atrofia vaginal (afinamento do tecido vaginal).
Entretanto, a mudança drástica nos nossos níveis de hormónios sexuais, com a chegada da menopausa, não é o único fator responsável por todos os sintomas geralmente atribuídos à menopausa. Embora exista uma queda muito definida de estrogénio e progesterona durante a perimenopausa e a menopausa, as mulheres na faixa dos quarenta e cinquenta anos mostram outros sinais de envelhecimento que podem estar a decorrer há décadas!
Os sintomas da menopausa derivam, em parte, do esgotamento crónico dos recursos metabólicos das mulheres durante os anos da perimenopausa. A facilidade da transição para esse estágio depende da força das supra-renais de uma mulher e do estado da sua nutrição geral. Numa mulher saudável, as glândulas supra-renais serão capazes de assumir gradualmente a produção hormonal dos ovários.
Muitas mulheres, no entanto, entram na menopausa num estado de esgotamento emocional e nutricional, afetando a função da glândula adrenal. Sob essas condições, uma mulher pode precisar de apoio hormonal, nutricional, emocional e outros, até que o seu equilíbrio endócrino seja restaurado.
IMPACTO NO CORPO E NA MENTE
Se Ojas foi afetado durante a perimenopausa, isto é, se o seu corpo e mente foram submetidos a altos índices de stress, falta de descanso e baixa nutrição, Ojas foi reduzido ao longo do tempo. Portanto, durante a menopausa teremos uma capacidade reduzida de manter o equilíbrio físico e emocional. Além disso, com a cessação do fluxo menstrual, perdemos a nossa capacidade de resfriamento e limpeza mensal. Dentro da visão do Ayurveda, a menstruação funciona como um rakta moksha natural, terapia do Ayurveda para liberar o excesso de Pitta presente no corpo feminino pela presença dos hormónios, mantendo a saúde da mulher. Se adicionarmos a esta observação, o item Kala (tempo), notaremos a transição da fase Pitta para fase Vata da vida.
Vata é frio, seco e errático e o impacto do seu aumento é percebido no nosso sistema simpático que fica sobrecarregado. Por isso, os níveis de cortisol, batimento cardíaco e a pressão arterial aumentam. Como consequência, esse estado de stress impulsiona Pitta por todo o corpo, provocando um círculo vicioso. Com a ativação constante do dosha Pitta e do sistema simpático por atividades agudas e quentes, o elemento fogo permanece aprisionado no corpo. Desta forma, a mulher, se não cuidada, pode ter uma secura excessiva.
A abordagem do Ayurveda à menopausa considera não apenas fatores físicos mas também aspetos emocionais e espirituais. Ao reconhecer a individualidade de cada mulher, o Ayurveda oferece ferramentas valiosas para enfrentar a menopausa de maneira mais consciente e saudável. Fica, então, o meu convite para que se comece a observar desde cedo. Procure a ajuda de um profissional qualificado para a orientar nessa caminhada.
Veja na edição de maio/junho um Guia Prático de autocuidado e tratamentos do Ayurveda para a fase da Menopausa. Por ora fica aqui uma receita de um pãozinho delicioso!
Pãozinho Funcional da Mulher Menopausada
Curiosa para saber o porque é tão bom? Comecemos pelos ingredientes principais:
✅ Aveia (farinha e farelo)
Fonte de fibras e beta glucana que diminui a absorção de gordura e o colesterol alto
Preserva a função dos neurónios
Hidrata a pele
✅ Linhaça
Fonte de ómega 3 e fitoestrogénios
Diminui a inflamação
Abranda a sensação de calor
Aumenta a lubrificação
Melhora a circulação e diminui a secura da pele
✅ Ovo orgânico
A clara tem leucina, um aminoácido ótimo para os músculos. A gema tem colina, excelente para a memória, foco e concentração como também para manter um fígado saudável.
E, agora sim, a lista completa de ingredientes e o modo de preparação:
- 1/2 xícara de farinha de aveia
- 1/2 xícara de farelo de aveia
- 3 csp (colheres de sopa) de linhaça triturada
- 4 ovos
- 1 copo de iogurte natural sem lactose
- 1/2 ccf (colher de café) de sal
- 1 csp (colher de sopa) de fermento em pó
Para esta receita basta misturar todos os ingredientes e, depois, colocar essa mistura numa forma, untada, retangular de pão. Após, leve ao forno a uma temperatura de 180 graus, por um período de 35 minutos. Uma receita simples e deliciosa. Bom apetite em qualquer idade!
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